sábado, 1 de janeiro de 2011

FÁBULAS

O príncipe encantado

Era uma vez uma velha ambiciosa que tinha três filhas, cada qual mais feia. Perto da casa da velha, morava uma moça muito bonita que, apesar de pobre, andava com lindos vestidos e ricas jóias. Desconfiando de tanta riqueza, a velha visitava, freqüentemente, a casa da moça para ver se descobria alguma coisa. Mas, por mais que procurasse, nada conseguia saber.

Resolveu então sua filha mais velha tentar descobrir o segredo. Dirigiu-se à casa da moça e, depois de muitos rodeios, pediu a esta para passar a noite em sua casa. A moça consentiu, mas, quando foi na hora de dormir, pôs no café da vizinha um remédio muito forte, que a fêz dormir a noite toda, sem nada ver ou ouvir.

Enquanto ela dormia, bateu na janela da moça um belo papagaio. A moça abriu a janela, e a ave entrou no seu quarto, onde já estava preparada uma bacia com água. O papagaio tomou um banho, sacudindo as penas. Cada pingo que caía fora da bacia era um lindo diamante, que a moça recolhia e guardava. Quando o papagaio acabou de se banhar, transformou-se num belo príncipe.

A moça abriu a janela, e a ave entrou no seu quarto.

A moça abriu a janela, e a ave entrou no seu quarto.

Depois de passar a noite com sua noiva, o príncipe, logo que clareou o dia, transformou-se num papagaio e voou para longe.

A filha da velha, que nada vira, voltou para casa dizendo que era mentira o que se dizia da moça. Mas a velha, desconfiada, mandou a outra filha para passar a noite na casa da vizinha. Aconteceu então a mesma coisa: ela tomou café com remédio e roncou a noite toda.

Diante disso, a velha, sempre desconfiada, mandou a sua filha mais moça. Esta, que era muito esperta, quando lhe foi dado o café, fingiu que ia bebê-lo e o derramou sobre um lenço que levava escondido. Deitou-se na cama e fingiu que estava dormindo. Pôde, assim, ver o que aconteceu durante a noite. Quando amanheceu, correu para casa e contou tudo à sua mãe.

A velha ficou ralada de inveja e, assim que anoiteceu, colocou no peitoril da janela da vizinha, uma porção de cacos de vidro e pedaços de navalha. Quando o papagaio chegou e foi passar pela janela ficou ferido, com o sangue a escorrer. A moça, espantada, correu para cuidar do papagaio, mas este, batendo as asas, exclamou:

— Ah! ingrata! Estou perdido! Nunca mais me verás, a não ser que mandes fazer uma roupa de bronze e andes com ela até o Reino do Limo Verde, onde moro! Dizendo isso, bateu asas e desapareceu no espaço.

A moça ficou muito triste e compreendeu o motivo das visitas das filhas da velha. Mas não desanimou. Mandou fazer uma roupa de bronze, vestiu-a e saiu pelo mundo à procura do Príncipe do Limo Verde.

Depois de dois anos de viagem, chegou ao reino da Lua e perguntou a esta se lhe poderia dar notícias do Reino

do Limo Verde. A Lua respondeu que nunca ouvira falar nesse reino, mas que talvez o Sol soubesse alguma coisa a esse respeito. A moça despediu-se e, na saída, a Lua lhe deu de presente uma almofada de fazer rendas, com bilros e alfinetes de ouro.

A moça seguiu viagem e, depois de andar dois anos, chegou à casa do Sol. Este disse também que jamais ouvira falar no Reino do Limo Verde. Mas que talvez o Vento Grande pudesse dar alguma informação sobre êle. A moça despediu-se e, na saída, o Sol lhe deu de presente uma galinha com pintos, todos de ouro, vivos e andando.

A moça viajou mais dois anos e, afinal, chegou à casa do Vento Grande. Este ouviu o que ela disse e respondeu: — Conheço o Reino do Limo Verde. Ainda ontem passei por lá. A moça então suplicou ao Vento que a levasse até lá. O Vento Grande lhe respondeu: — Amanhã monte em mim e, quando encontrar uma árvore muito grande e muito copada, na frente de um palácio muito rico, segure-se nos galhos, que é ali.

No dia seguinte, lá foi a moça montada no Vento Grande. Ao avistar a árvore, agarrou-se à mesma e desceu. E ficou, embaixo, imaginando o que havia de fazer para entrar no palácio e ver o príncipe.

Nesse momento, chegaram três rolinhas, pousaram na árvore e começaram a conversar. Disse uma delas: — Não sabem? O príncipe do Limo Verde está para morrer. A segunda perguntou: — O que será bom para êle? E a terceira respondeu: — As feridas que êle tem no peito não saram mais; só se nos pegarem, tirarem nossos corações, torrarem, moerem e deitarem o pó nas feridas.

A moça, que ouvira toda a conversa, armou um laço e pegou as três rolinhas. Tirou-lhes os corações, torrou-os e fêz um pòzinho que guardou cuidadosamente. Em seguida partiu à procura do príncipe.

Fêz tudo para entrar no palácio, mas não conseguiu. Então, tirou a almofada de ouro que a Lua lhe havia dado, e começou a fazer renda. Daí a pouco, veio passando uma criada do palácio que ficou maravilhada com a beleza da almofada. Foi contar o que vira à rainha e esta mandou perguntar à moça quanto queria pela almofada. E a moça respondeu: — Darei de presente a almofada, se me deixarem dormir no quarto do príncipe.

A rainha ficou ofendida e quis mandar prender a moça, mas a criada lhe disse: — Ora, minha senhora, o príncipe está tão doente que não conhece mais ninguém. Que mal faz que aquela tola durma no chão de seu quarto ? A rainha, então, consentiu e ficou com a almofada de ouro.

A moça foi dormir no quarto do príncipe e logo na primeira noite lavou-lhe as feridas e pôs nelas o pó das rolinhas. Mas, desta vez, o rapaz não a reconheceu.

No dia seguinte, a moça foi, novamente, para debaixo da árvore e soltou a galinha e os pintos de ouro. Passou a criada e ficou admirada com o que viu. Foi correndo contar à rainha. Mandou esta perguntar quanto custava a galinha e os pintos. A moça respondeu que daria de graça aquelas preciosidades se a deixassem dormir duas noites no quarto do príncipe.

A rainha, a princípio, não queria deixar, mas, a conselho da criada, acabou consentindo. Na segunda noite, o príncipe melhorou muito e, na terceira, ficou completamente

bom e reconheceu a moça. Abraçou-a, ternamente, e pediu-a em casamento.

E claro que a moça aceitou. Então, o príncipe apresentou-a a seus pais como sua noiva. Dias depois, realizou-se o casamento com grande pompa. Houve muitas festas, não só no palácio, como em todo o Reino do Limo Verde.


OS TRÊS LIMÕES

CERTO Sultão tinha um filho, pelo qual sentia justificado orgulho, porque êle era belo e de gênio jovial, e nunca se soube que houvesse cometido uma ação censurável.

No círculo da Corte, era êle o astro mais brilhante. O Príncipe era cortês para com todas as damas, mas não favorecia a nenhuma em particular; e como os anos iam correndo sem que êle manifestasse o desejo de escolher uma esposa, o Sultão tornou-se apreensivo.

— Meu filho, — disse êle certa vez, por que não escolheis uma noiva? Acho que já é tempo de vos casardes; eu seria tão feliz se vos visse pai de filhos, antes de deixar este mundo. Ser-vos-ia tão fácil fazer a vossa escolha entre as belas jovens que vos cercam! Eu não experimentaria dificuldade alguma se estivesse em vosso lugar! Temos tão lindas moças em nossa terra!

O jovem príncipe fitou seu pai, tornando-se pensativo.

— Eu desejo alguma coisa mais, do que aquilo que estas jovens me podem oferecer, querido pai! — explicou êle, — e se vós realmente quiserdes que eu escolha uma esposa, peço-vos que me deixeis realizar uma grande viagem em volta do mundo, a fim de que eu possa encontrar a princesa a quem devo dedicar o meu amor. Para que eu a ame, deverá ela ser bela como a madrugada, branca como a neve e pura como um anjo.

— Pensai bem, meu filho, — respondeu-lhe o Sultão. Que a boa sorte vos acompanhe e que volteis são e salvo: — é esse o meu desejo.

E sem mais demora, o Príncipe partiu. A temperatura era ríspida e gelada, e os transparentes flocos de neve, atravessados pelas irradiações da luz solar, cobriam os montes e os vales.

conto infantil ilustrado

Viu um belo navio

As ondas que bramiam e que se quebravam na praia distante, pareciam arrastá-lo para junto de si, tão apressado ia êle em direção ao porto.

Ali chegando, encontrou um esplêndido navio ancorado.

Achava-se ainda maravilhado e perplexo, pois não sabia porque, esse navio havia chegado até ali ignorando para onde era destinado e mãos invisíveis conduziram-no para bordo e seus pés pousaram no convés; a âncora levantou-se sem auxílio de ninguém e o navio zarpou.

Durante três dias e três noites, deslizou sobre as ondas, dirigido por um piloto sombrio, que não pronunciava uma palavra.

Na madrugada do quarto dia, houve uma pequena parada junto a uma ilhota, e o Príncipe teve a agradável surpresa de ver seu cavalo favorito sair do porão do navio, ajaezado com selim e rédeas, pronto para ser cavalgado.

Tirou, portanto, a conclusão de que devia estar sendo esperado em terra; conduziu o cavalo até a praia, e quando voltou-se, para contemplar o navio, viu que este havia desapare cido.

Não havia por ali nem sinal de habitação e o frio era tão intenso que êle mal podia segurar as rédeas. Apesar disso, cavalgou de cá para lá, sem destino, até que viu uma pequena casa branca, que parecia manter-se equilibrada no cume de uma colina e era batida por todos os lados pelo vento.

Bateu à porta com força esperando encontrar ali um pouco de fogo e, talvez algum alimento.

Seu chamado foi atendido por um velhinho, de cabelos raros e brancos como flocos de neve, o qual o encarou com ar interrogativo.

— Ando à procura de uma esposa, meu bom velhinho, disse-lhe o príncipe. Esta, porém, deve ser a princesa mais bela do mundo, e, tão boa quanto bela. Podeis dizer-me onde a poderei encontrar?

O velhinho encostou a porta.

— Não a encontrareis aqui, disse êle. Eu sou o Inverno e este o meu reino. Meu irmão Outono talvez vos possa ajudar; quanto a mim, não tenho tempo para pensar em amores. Encontrá-lo-eis se seguirdes sempre para a frente.

O príncipe agradeceu ao bom velho a sua indicação e cavalgou novamente a sua montaria, na esperança de que o Outono quisesse dar–lhe, afinal, pousada e algum alimento.

Depois de cavalgar mais algum tempo, percebeu que a neve havia desaparecido, e que frutos maduros, em grandes cachos, pendiam das árvores.

As espigas de trigo douravam os campos e os esquilos estavam muito ocupados em armazenar nozes para a sua provisão de inverno.

Dentro de poucos instantes chegou êle a uma casa cinzenta, situada junto a um bosque, e descendo novamente do cavalo, bateu à porta dá mesma.

Esta foi aberta por um homem de cabelos negros e abundantes e olhos côr de ameixas pretas. Suas faces eram coradas e seu olhar benevolente.

— Dizei-me o que desejais, meu bom senhor, — disse êle, num agradável tom de voz.

— Procuro uma esposa, — respondeu brevemente o príncipe.

Historinha infantil princesa casamento

Ela lhe disse: Deveis estar cansado...

— Ah! — exclamou êle, — então não vos posso auxiliar, porque estou em verdade muito ocupado com colher os frutos e não tenho tempo a perder com essas coisas. Meu irmão Estio é que vive cheio de sonhos. Êle, certamente, vos poderá proporcionar aquilo que desejais. E, isto dizendo, fechou a porta.

Observou que, à medida que ia cavalgando, a grama da estrada ia-se tornando mais viçosa e que os campos se achavam matizados de espigas maduras, a ponto de serem ceifadas.

O ar era quente e acariciava-lhe as faces docemente.

Ficou muito contente, quando, por fim, avistou uma pequena casa amarela, sombreada por um grupo de árvores.

Quando bateu à porta, ouviu o som distante de uma cascata, e a esperança de mitigar a própria sede, fazia-se esta sentir mais forte em seu espírito, do que a de encontrar a mais bela princesa do reino do Estio.

Bateu à porta e seu chamado foi atendido por um homem robusto, coroado de belos cabelos côr de ouro brunido.

— Sinto muito não poder satisfazer o vosso pedido, — respondeu-lhe o Estio, assim que o príncipe lhe expôs o motivo de sua jornada, — porque também eu, estou muito ocupado. Diri-gí-vos à minha irmã Primavera: — ela é a amiga dos jovens e virá, certamente, em vosso auxílio.

O príncipe, ao ouvir isto, foi seguindo o seu caminho, até que avistou uma linda e pequena casa verde, junto a uma moita de lilazes.

Jacintos e violetas, junquilhos, narcisos e perfumados lírios do vale, floresciam junto às janelas; quando êle bateu à porta, uma bela dama de cabelos côr de linho e de olhos suaves e profundos, côr de violeta, apareceu no limiar.

— Não tereis compaixão de mim? — disse êle ofegante. Vossos irmãos mandaram-me à vossa procura. Ando em busca de uma esposa, que seja bela como a madrugada, branca como a neve e pura como um anjo do céu.

— Vós pedis muita coisa, — disse-lhe a Primavera, — farei, entretanto, tudo o que estiver a meu alcance, afim de vos contentar.

Entrai e descansai. Deveis estar cansado e faminto.

Com grande satisfação para o príncipe, fê-lo entrar num aposento longo e baixo, embalsamado pelo aroma de muitas flores.

Depois de o haver alimentado com pão e mel, e de lhe haver mitigado a sede com leite fresco, apresentou-lhe três lindos limões, numa bandeja de cristal.

Junto a estes, havia uma linda faca e uma rica taça de ouro, finamente cinzelada.

— Estes limões representam talismãs mágicos, — disse ela. Guardai-os, portanto, cuidadosamente. Voltai imediatamente para vossa casa e ide até a grande fonte que existe no jardim do palácio. Depois de vos assegurardes de que estais completamente só, tomai esta faca de prata e cortai pelo meio o primeiro limão.

Assim que fizerdes isto, uma encantadora princesa aparecerá diante de vós e vos pedirá água.

Se vós, nesse mesmo instante, lhe oferecerdes o que vos irá pedir, nesta taça de ouro, essa

princesa permanecerá a vosso lado e será vossa esposa; mas, se hesitardes, um segundo que seja, a princesa evaporar-se-á no ar e nunca mais a tornareis a ver. *

— Eu não cometerei a tolice de hesitar, — disse.o príncipe, — mas, se isso acontecer, ficarei então sem esposa?

— Nesse caso, deveis cortar o outro limão — respondeu gravemente a Primavera, e a mesma coisa acontecerá novamente. Se hesitardes ainda dessa vez e ainda dessa vez a outra princesa desaparecer, restar-vos-á a última probabilidade quando cortardes o terceiro limão. Se falhardes esta terceira vez, morrereis pela certa.

O príncipe quisera haver agradecido pela sua benevolência, mas ela ordenou-lhe que partisse imediatamente, e com um sorriso e um suspiro, disse-lhe que não tardasse.

O príncipe, com o coração cheio de uma alegria esperançosa, cavalgou novamente através do reino do Estio, do Outono e do Inverno, e quando chegou ao porto, achava-se ali ancorada a mesma embarcação que o trouxera, esperando suas ordens.

O vento foi favorável à sua viagem de regresso, e o navio, em menos tempo do que havia empregado para a ida, ganhou a enseada que ficava próxima ao palácio de seu pai.

Deixando o cavalo entregue aos cuidados de um lacaio, dirigiu-se apressadamente para o grande jardim, e depois de haver enchido a taça que lhe dera a Primavera com a água da fonte, cortou o primeiro limão.

Nem bem êle havia feito isto, uma linda princesa surgiu e lançando-lhe um olhar tímido, pediu-lhe água.

— Tenho sede, murmurou ela. Quereis dar-me de beber em vossa taça de ouro?

O príncipe ficou tão fascinado, que pôde apenas contemplá-la, e então, fazendo um gesto de censura, a adorável donzela evaporou-se.

Foi em vão que o príncipe lamentou sua estupidez. Fêz tudo quanto lhe veio à mente, mas não conseguiu que chegasse outra vez para junto de si.

Cheio de ressentimento, cortou a casca do segundo limão. E ainda desta vez, a água que brotava da fonte murmurante, tomou a forma de uma linda moça.

Linda Donzela

Apareceu uma linda donzela

— Bela como a madrugada e branca como a neve! — exclamou o príncipe extasiado. Tão

fascinado ficou que não pensou em satisfazer o pedido que a moça lhe fêz, de lhe dar um copo de água.

O príncipe, não conseguiu readquirir seus sentidos, senão quando a segunda donzela, também, desapareceu, e mais uma vez deplorou êle sua negligência quanto às advertências da Primavera.

Com os dedos trêmulos, cravou a faca de prata no terceiro limão, e quando o aroma ativo do fruto embalsamou o ar, outra princesa surgiu em sua frente.

Fechando os olhos para não ficar fascinado pela sua incomparável beleza, ofereceu-lhe imediatamente água em sua taça de ouro.

A donzela levou-a aos lábios, com um sorriso encantador, e esgotou-a até o fim.

O príncipe ria alegremente! Até que enfim encontrara a noiva por quem suspirava.

A princesa era mais bela do que um dia de verão.

Sua fronte e suas faces eram côr de neve, e sua expressão tão pura e gentil quanto a dos anjos.

Conduzindo-a a seu lado para um banco florido, tomou-lhe as mãos e fitou-a dentro dos olhos.

— Como sois linda! — disse êle. Esperai–me aqui, enquanto vou buscar uma carruagem doirada para nela vos conduzir ao palácio. Ficai junto à fonte até eu voltar. Quero trazer-vos um lindo vestido de cetim e um rico colar de pérolas com o qual adornareis vosso lindo colo.

Isto dizendo, o príncipe partiu e a bela princesa ficou à fonte, à espera do vestido e do colar.

Morava, naquelas redondezas, uma mulher, a qual tinha a seu serviço uma preta horripilante, entendida em assuntos de feitiçaria.

A senhora ordenou-lhe que fosse à fonte buscar água e deu-lhe um cântaro para que o enchesse.

A preta pôs-se a caminho, afim de executar a ordem de sua ama.

A princesa, vendo que alguém se aproximava, e não querendo ser vista, subiu a urna árvore, cujos ramos pendiam sobre a água, e o rosto da princesa nesta se refletia como num espelho.

Ao chegar junto à fonte, a preta pousou o cântaro e olhou para dentro da água.

Vendo a imagem da princesa ali reproduzida, julgou que fosse essa a sua própria imagem.

Ficou tão encantada, ao ver-se assim tão bela, que correu para junto de sua ama.

Uma vez ali, atirou o cântaro ao chão, que-brando-o, e disse:

— Vi meu rosto na água da fonte! Sou linda e não quero mais trabalhar!

A senhora repreendendo-a, disse-lhe que fosse novamente à fonte, deu-lhe um outro cântaro e lhe recomendou que não voltasse sem água.

A cena repetiu-se tal qual a primeira vez, e a preta voltou novamente com o cântaro vazio.

— Quero casar com um príncipe e morar em um palácio, — disse ela. Ao dizer isto, arremessou para longe de si o segundo cântaro e deu alguns passos em frente à sua ama, assumindo um ar tão ridículo de dignidade, que essa dama não poude deixar de soltar uma gargalhada.

A princesa subiu à árvore

A princesa subiu à árvore

— Se soubesse o quanto és feia, — disse então, assim que poude falar, não ousaria nunca dizer semelhante disparate. E proibindo-lhe que voltasse ainda mais uma vez sem trazer água, deu à empregada um terceiro cântaro e mandou-a novamente à fonte.

A linda princesa, sorriu ao vêr a mulher, quando esta chegou junto à fonte, cheia de cólera, rangendo os dentes e envesgando os olhos.

— Sou muito linda, — exclamou ela, em tom de triunfo. Tão bela quanto uma rainha.

Disse isto tão alto, que a princesa a escutou, e seu riso soou como se fosse um carrilhão de sininhos.

Olhando imediatamente para cima, a preta avistou-a entre os ramos, e a sua vaidade desiludida fêz com que ela ficasse quase muda…

Sua senhora tinha realmente razão, porque a linda visão que ela havia visto dentro da água não era o reflexo de sua própria imagem.

Olhou para cima com os olhos dilatados, e surgiram em seu íntimo pensamentos de vingança.

— Farei com que ela sofra, — murmurou irada. .. Abrindo, então, seus grossos lábios num falso sorriso, saudou a princesa dizendo–lhe: "Bom dia!" — Porque vos escondeis nessa árvore, linda moça? — perguntou-lhe gentilmente.

— Estou à espera de meu príncipe. Êle deixou-me aqui enquanto ia buscar, para que eu o vestisse, um vestido de cetim, e um colar de pérolas, murmurou a princesa docemente.

— Vossos cabelos doirados estão emaranhados pelo vento, — disse-lhe a preta. Deixai que eu me aproxime de vós e farei com que eles se tornem sedosos e macios. Não deveis estar despenteada quando vosso príncipe chegar.

— Como sois boa, — disse a princesa. Quando ela abaixou sua cabeleira loira em direção à preta, a traiçoeira mulher atravessou–lhe a cabeça com um alfinete longo e agudo.

A princesa caiu desmaiada, mas antes que o seu corpo tocasse o solo, ela transformou-se numa pomba branca como a neve, a qual voou lançando gemidos plangentes.

A mulher tomou o lugar da princesa sobre o galho, e, quando, finalmente, o príncipe apareceu, trazendo um vestido de cetim e um véu de noiva, foi a preta a quem avistou, olhando para êle de cima da árvore.

— Onde está minha linda princesa? — perguntou êle. Ela é bela como a madrugada, branca como a neve. Que foi feito dela?

— Ai! de mim! Querido príncipe, respondeu a negra tristemente, durante a vossa ausência uma feiticeira apareceu aqui e transformou-me, deixando-me conforme agora me vedes. Quando vós me provardes o vosso amor, fazendo de mim vossa esposa, tornar-me-ei novamente uma linda e encantadora princesa; porém, se me abandonardes, permanecerei horrenda para sempre.

Apesar do aspecto da negra lhe inspirar a maior repulsão, o príncipe lembrou-se de que era um homem de honra, e não podia, portanto, faltar à sua palavra.

Chamando as damas que se achavam esperando dentro da carruagem que êle havia trazido, para levar sua noiva até o palácio, pediu a estas que vestissem a preta com o vestido de cetim, e parecendo não reparar no espanto e no desgosto que estas demonstravam, levou-a até à presença de seu pai, apresentando-a como sua noiva.

1001 noites

Agarrou a pomba

O Rei ficou, como era natural, horrorizado com o seu aspecto; no entanto, quando o príncipe lhe explicou o que aquilo significava, consentiu que o príncipe a desposasse e ficasse à espera de que tudo corresse do melhor modo possível.

Enquanto o pai e o filho tratavam desse assunto, a negra percorreu todo o palácio, dando ordens descabidas aos servidores, tornando-se assim odiosa a todos eles.

Por fim, chegou ela até à grande cozinha, e ordenou ao cozinheiro-chefe, que preparasse ricos manjares para o jantar de bodas.

Ao dar esta ordem, em voz alta e estridente, passou junto à janela uma pomba branca e ligeira, pousando sobre o peitoril.

— Matem esta pomba, — exclamou ela, — e preparem-na para a minha ceia.

Não ousando desobedecer-lhe, o cozinheiro–chefe matou a pomba imediatamente, mergulhando uma faca afiada em seu peito de neve.

Três gotas de sangue caíram desde o peitoril da janela ao pátio, e um pequeno broto nasceu de cada uma delas.

Como se uma fada houvesse agitado sua varinha mágica, esses três brotos cresceram e transformaram-se em três árvores de fragrantes flores, e em menos tempo do que é preciso para dizê-lo, as flores, por sua vez, transformaram-se em lindos limões dourados.

Enquanto isto se passava, o príncipe andava à procura de sua noiva, porque, uma vez que èle se dispusera a cumprir um dever tão desagradável, desejava cumprí-lo de modo irrepreensível.

— Saiba S. Alteza Real que ela está na co-sinha — disse um de seus cortesãos escandalizado. Indo procurá-la, o príncipe passou sob o limoeiro. A vista de seus frutos trouxe-lhe um raio de esperança, e colhendo os três mais belos que encontrou, correu com eles para o seu

quarto, onde, depois de encher de água a taça de ouro, introduziu a lâmina da faca de prata na casca do primeiro limão.

Tal qual como acontecera a primeira vez, apareceu-lhe uma donzela e estendeu suas lindas mãos para a taça de ouro.

— Ah! Não! Vós sois encantadora, mas não sois a minha princesa.

Cortou então a casca do segundo limão e uma segunda princesa apareceu diante dele.

O príncipe, também desta vez, sacudiu a cabeça, negativamente. Não era essa sua querida princesa.

Finalmente, cortou o terceiro limão, e nesse mesmo momento, sua querida noiva lançou-se novamente em seus braços!

Grande foi a satisfação e o alívio do velho Sultão, quando o príncipe lhe disse que aquela linda moça era a sua noiva, ouvindo, também, com as sobrancelhas franzidas o relato que lhe fêz a princesa, de tudo o que havia acontecido quando seu bem amado a havia deixado junto à fonte.

Ordenou então que a negra fôssé trazida à sua presença, e fitando-a com ar severo, perguntou-lhe qual o justo castigo que, segundo sua opinião, devia ser inflingido a quem ousasse fazer afronta à noiva de seu querido filho.-

Desenho da linda princesa

Apresentou sua linda noiva ao Sultão

— Um castigo não menor do que a morte, — declarou, — e a morte pelo fogo.

Mandai lançar o ofensor dentro do forno do palácio de V. Majestade e depois mande fechar sua grande porta.

— Senhora, disse o Sultão secamente, — acabais de ditar a vossa própria sentença!

Transida de medo a negra foi levada para fora da sala.

No entanto, a boa princesa não quis que ela fosse condenada.

— Ela é uma pobre mulher ignorante, — disse, e já é uma triste coisa ser-se assim tão feia. Deixai-a partir livremente. Sou eu quem vos suplico. É a mercê que vos peço, como presente de noivado.

O Sultão não poude recusar o primeiro pedido de sua nova filha, e o príncipe olhou para ela apaixonadamente.

— Eu já sabia que vós éreis bela como a madrugada e branca como a neve — murmurou êle, e agora vejo que sois também boa como um anjo.

E apesar dos anos vindouros, lhe haverem trazido tantas tristezas quanto alegrias, o príncipe continuou a ser, em verdade, abençoado; e a princesa, amada pelos seus súditos, o coadjuvou em seu governo.

O príncipe, cada vez que via um limoeiro, enviava um pensamentos de gratidão à primavera, pelos mágicos presentes que esta lhe oferecera, e, em virtude dos quais, êle havia alcançado o que desejara.FIM (Trad. e adaptação de Leoncio de Sá Filho)

A princesa e o monstro

Lourenço era um homem muito pobre que possuía três filhas jovens e formosas. Vivia do humilde ofício de fazer gamelas. E o que conseguia com a venda destas mal dava para o sustento da sua família. Um dia estava Lourenço trabalhando na sua oficina, quando surgiu na porta um moço simpático e bem trajado, montando um belo cavalo. Qual não foi o espanto do velho gameleiro quando o desconhecido lhe propôs a compra de uma de suas filhas! Ficou indignado com a proposta e disse ao moço que, embora fosse pobre, não venderia nenhuma filha. Mas o moço não aceitou a recusa do velho e o ameaçou de morte se êle não aceitasse a sua proposta. Viu-se então Lourenço forçado a vender uma filha, recebendo, por isso, grande soma de dinheiro. Ao retirar-se o misterioso cavaleiro, levando a moça comprada em sua companhia, resolveu o velho gameleiro abandonar a profissão, mas, aconselhado por sua mulher, acabou por concordar em não abandonar o seu modesto trabalho.

No dia seguinte, apareceu na casa de Lourenço outro jovem ainda mais simpático do que o da véspera e montando um cavalo mais formoso e melhor arreado. Repetiu-se a estranha proposta do dia anterior. E o velho, com receio de ser morto pelo cavaleiro, viu-se na triste contingência de vender outra filha. Recebeu então uma quantia maior que a do outro pretendente. Novamente, tentou o velho abandonar o negócio das gamelas, porém a mulher, mais uma vez, persuadiu-o a continuar com a sua humilde profissão. No outro dia, à mesma hora, Lourenço quase morreu de susto quando surgiu à sua frente um terceiro cavaleiro, ainda mais belo e melhor vestido do que os anteriores, oferecendo-se para comprar-lhe a última filha. Nova recusa e nova ameaça. O velho, atemorizado, teve de ceder. E lá se foi a filha mais moça do gameleiro na garupa do seu comprador. Desta vez, Lourenço recebeu uma quantia tão grande que ficou rico.

Pouco tempo depois, a esposa do gameleiro teve um filho. Era um menino bonito e forte que foi criado com muito carinho. Um dia, quando já esta ‘a bem crescido, brigou com um companheiro que, enraivecido, lhe disse: — Pensa que seu pai sempre foi rico? Ele está cheio de dinheiro porque vendeu suas filhas! O rapaz ficou impressionado com a acusação do colega e procurou seus pais para saber da verdade. Estes não tiveram outro remédio senão contar ao filho o que havia acontecido. O rapaz ficou muito triste com o destino infeliz de suas irmãs e resolveu sair pelo mundo à sua procura.

Depois de vários dias de viagem, encontrou no caminho três irmãos brigando por causa de uma bota, de uma carapuça e de uma chave. O rapaz aproximou-se, aconselhou os três a fazerem as pazes e perguntou para que serviam aqueles objetos. Soube então que, quando se dizia à bota: — Bota, leva-me a tal parte!, a bota levava; quando se dizia à carapuça: — Esconde-me, carapuça!, a carapuça escondia; e a chave abria qualquer porta!

O rapaz ofereceu bastante dinheiro pelos objetos e os irmãos aceitaram. Meteu ele os objetos no bolso e continuou sua viagem. Quando se achou bem distante do lugar em que deixara os três irmãos, tirou do bolso a bota e disse — Bota, leva-me à casa de minha irmã mais velha! Quando acabou de proferir essas palavras, encontrou-se à porta de um lindo palácio onde residia sua irmã. Chamou um dos criados e disse-lhe para avisar a dona da casa de que seu irmão desejava falar-lhe. A princípio, a moça não quis aparecer, pois não sabia que tinha um irmão. Mas o moço conseguiu contar-lhe sua história e ela então o recebeu carinhosamente. Perguntou ao jovem como conseguira êle alcançar aquele lugar distante e deserto. Mostrou-lhe o rapaz a bota maravilhosa que o havia levado até aquelas paragens.

Ao cair da tarde, o rapaz percebeu que sua irmã estava triste e preocupada. Perguntou-lhe o motivo e ela então lhe disse que seu marido era o Rei dos Peixes, mas que possuía um gênio terrível e lhe avisara de que mataria qualquer pessoa estranha que encontrasse em seu palácio. O rapaz tranqüilizou-a, contando-lhe o poder de sua carapuça que lhe permitia esconder-se sem ser descoberto. Quando anoiteceu, surgiu o Rei dos Peixes, derrubando tudo que encontrava à sua frente. Entrou em casa furioso e foi logo exclamando: — Estou sentindo cheiro de carne humana! Há uma pessoa estranha nesta casa! A rainha conseguiu, a custo, convencê-lo do contrário. Ele então entrou no banho e se transformou num belo moço.

Durante o jantar, aproveitando o bom humor do marido, a rainha perguntou-lhe: — Que faria você se aqui estivesse meu irmão, seu cunhado? — Ficaria muito satisfeito com sua visita. Se êle estiver aqui que apareça! O moço retirou então a carapuça e se tornou visível. Foi muito bem recebido pelo Rei dos Peixes que simpatizou tanto com êle que acabou por lhe pedir para ficar morando no palácio. O rapaz agradeceu e disse que não podia aceitar o convite, pois desejava visitar as duas outras irmãs. Perguntou-lhe então o Rei dos Peixes qual a utilidade daquela bota que êle trazia num dos pés e o rapaz revelou o poder mágico que a mesma possuía. Disse então o Rei dos Peixes: — Se eu tivesse uma bota como essa, iria visitar a Princesa de Castela!

No momento da despedida, o rapaz recebeu do cunhado uma escama e este lhe disse: — Quando você estiver em perigo, segure esta escama e grite: Valha-me o Rei dos Peixes! O jovem abraçou a irmã e o cunhado e partiu. Quando se viu longe do palácio, disse para a bota: — Bota, leva-me à casa da minha segunda irmã! Quando acabou de proferir essas palavras, achou-se diante de um palácio mais bonito do que o anterior. Depois de algumas dificuldades, conseguiu falar com a irmã que ficou muito alegre ao saber que êle era seu irmão. Ao cair da tarde, a irmã ficou inquieta e aflita e disse ao rapaz que seu marido, o Rei dos Carneiros, mataria qualquer pessoa estranha que encontrasse no palácio. O irmão contou-lhe o poder mágico de sua carapuça e ela ficou mais calma.

Quando caiu a noite, apareceu o Rei dos Carneiros. Era um carneirão alvo, bonito e forte, que destruía, com cabeçadas, tudo que encontrava à sua frente. Aconteceram então os mesmos fatos da visita à irmã mais velha. O Rei dos

Carneiros ao ter conhecimento que o rapaz era seu cunhado, fez-lhe muitas gentilezas e, ao despedir-se, deu-lhe um pedaço de lã, dizendo: — Quando você estiver em perigo, segure esta lã e grite: Valha-me o Rei dos Carneiros! Quando soube do poder mágico da bota, também disse: — Se eu tivesse uma bota como essa, iria visitar a Princesa de Castela!

O rapaz ficou intrigado com o desejo dos seus cunhados de visitar a Princesa de Castela e, naquele momento, prometeu a si mesmo que iria vê-la, logo que lhe fosse possível. Antes, porém, precisava visitar sua irmã mais moça. Com o auxílio da bota mágica, num instante foi transportado à sua residência. Era um palácio muito mais lindo e rico que os das outras irmãs. Verificou então que sua irmã mais moça era casada com o Rei dos Pombos. Aconteceram os mesmos fatos das visitas anteriores. No momento da despedida, o Rei dos Pombos deu ao cunhado uma pena, dizendo: — Quando estiver em perigo, segure esta pena e grite: Valha-me o Rei dos Pombos! E ao saber do poder mágico da bota, também exprimiu o desejo de visitar a Princesa de Castela.

Logo que se viu longe do palácio do Rei dos Pombos, o rapaz disse à bota: — Leva-me, agora, ao reino da Princesa de Castela! Quando abriu os olhos estava lá. Soube então que se tratava da mais linda princesa do mundo, tão linda que ninguém podia passar pelo seu palácio sem levantar os olhos para vê-la na janela. O Rei, seu pai, desejava muito que ela se casasse, mas a princesa havia dito que só se casaria com o homem que passasse por ela sem levantar os olhos para vê-la. O rapaz mandou dizer ao Rei que era capaz de fazer isso. E de fato passou diante da princesa, várias vezes, sem olhá-la, conseguindo assim casar-se com ela.

Depois de casados, o rapaz contou à sua esposa a história dos objetos mágicos que possuía. A princesa ficou muito interessada, principalmente, no poder da chave. E que o Rei mantinha preso, num quarto do palácio, um monstro terrível, chamado Manjaléu, que êle, de vez em quando, mandava matar, mas que sempre revivia. A princesa tinha grande curiosidade de ver o estranho animal. Por isso, aproveitando um momento em que o pai e o marido se achavam fora do palácio, apanhou a chave encantada e abriu o quarto. O horrendo monstro pulou para fora, dizendo: — Você mesmo é que eu queria! e fugiu para longe, levando a princesa.

Quando o Rei e o rapaz regressaram e deram por falta da princesa ficaram muito aflitos. E a inquietação foi maior quando verificaram que o quarto do monstro estava vazio. Então, o rapaz, valendo-se da bota encantada, logo foi ter ao lugar onde se encontrava sua esposa. A princesa ficou radiante de alegria quando viu o marido e quis imediatamente fugir com êle. Mas este aconselhou-a a descobrir, primeiro, onde se encontrava a vida do Manjaléu para, assim, poder matá-lo de uma vez.

Quando o monstro voltou, percebeu que ali tinha estado um homem e ficou furioso. Mas a princesa conseguiu convencê-lo do contrário e, quando êle se acalmou, perguntou-lhe onde se achava a sua vida. Ele recusou-se a dizer. Mas tanto pediu a princesa que um belo dia êle resolveu atendê-la e disse: — Vou dizer-lhe onde está a minha vida, mas, se eu, algum dia, sentir qualquer mal-estar, saberei que estou em perigo e, antes que me matem, cortarei sua cabeça com este facão afiado que trago sempre comigo! Quer saber assim mesmo? A princesa disse que sim. Disse-lhe, então, o monstro: — Minha vida está no mar; dentro dele há um caixão; dentro do caixão uma pedra; dentro da pedra uma pomba; dentro da pomba um ovo; dentro do ovo uma vela acesa; assim que a vela se apagar, eu morrerei.

Todos os peixes foram, então, buscar o caixão e o colocaram na praia.

A princesa, logo que pôde, contou tudo ao marido. Mais do que depressa o rapaz correu à praia e, segurando a escama que possuía, gritou: — Valha-me o Rei dos Peixes! Milhares de peixes surgiram logo, indagando o que êle desejava. Perguntou-lhes o moço por um caixão que existia no fundo do mar. Responderam os peixes que nunca o tinham visto, mas que, talvez, o peixe coto soubesse da sua existência. Apareceu o peixe cotó e este contou que acabara, naquele momento, de esbarrar no caixão. Todos os peixes foram, então, buscar o caixão e o colocaram na praia. O rapaz, depois de muito custo, conseguiu abri-lo. Mas nada pôde fazer com a pedra que estava no seu interior. Apanhou então o pedaço de lã e gritou: — Valha-me o Rei dos Carneiros! Surgiram logo milhares de carneiros. E o rapaz pediu-lhes que rebentassem a pedra.

Nesse momento, o Manjaléu sentiu-se mal e começou a amolar o facão para degolar a princesa. Os carneiros, afinal, conseguiram rebentar a pedra. Saiu desta uma pomba que bateu asas e desapareceu no horizonte. O rapaz pegou então a sua pena e gritou: — Valha-me o Rei dos Pombos! Apareceram milhares de pombos que voaram atrás da pomba e conseguiram agarrá-la. O rapaz abriu-a e achou o ovo. Nesse instante, o Manjaléu, que percebeu que ia morrer, levantou o facão para cortar o pescoço da princesa. Foi quando o rapaz, quebrou, rapidamente, o ôvo e apagou a vela. E o monstro caiu morto, sem conseguir degolar a princesa. O moço foi então buscá-la e a levou para o palácio, onde viveram, daí por diante, tranqüilos e felizes.



0 Comments: