Bjinhos.
A Festa No Céu (Conto tradicional do Brasil)
Luís Câmara Cascudo
Entre todas as aves, espalhou-se a notícia de uma festa no Céu. Todas as aves compareceriam e começaram a fazer inveja aos animais e outros bichos da terra incapazes de vôo.Imaginem quem foi dizer que ia também à festa... O Sapo! Logo ele, pesadão e nem sabendo dar uma carreira, seria capaz de aparecer naquelas alturas. Pois o Sapo disse que tinha sido convidado e que ia sem dúvida nenhuma. Os bichos só faltaram morrer de rir. Os pássaros, então, nem se fala!O Sapo tinha seu plano. Na véspera, procurou o Urubu e deu uma prosa boa, divertindo muito o dono da casa. Depois disse:- Bem, camarada Urubu, quem é coxo parte cedo e eu vou indo, porque o caminho é comprido.O Urubu respondeu:- Você vai mesmo?- Se vou? Até lá, sem falta!Em vez de sair, o Sapo deu uma volta, entrou na camarinha do Urubu e, vendo a viola em cima da cama, meteu-se dentro, encolhendo-se todo.O Urubu, mais tarde, pegou na viola, amarrou-a a tiracolo e bateu asas para o céu, rru-rru-rru...Chegando ao céu, o Urubu arriou a viola num canto e foi procurar as outras aves. O Sapo botou um olho de fora e, vendo que estava sozinho, deu um pulo e ganhou a rua, todo satisfeito.Nem queiram saber o espanto que as aves tiveram, vendo o Sapo pulando no céu! Perguntaram, perguntaram, mas o Sapo só fazia conversa mole. A festa começou e o Sapo tomou parte de grande. Pela madrugada, sabendo que só podia voltar do mesmo jeito da vinda, mestre Sapo foi-se esgueirando e correu para onde o Urubu se havia hospedado. Procurou a viola e acomodou-se, como da outra feita.O sol saindo, acabou-se a festa e os CONVIDADOS foram voando, cada um no seu destino. O Urubu agarrou a viola e tocou-se para a Terra, rru-rru-rru...Ia pelo meio do caminho, quando, numa curva, o Sapo mexeu-se e o Urubu, espiando para dentro do instrumento, viu o bicho lá no escuro, todo curvado, feito uma bola.- Ah! camarada Sapo! É assim que você vai à festa no Céu? Deixe de ser confiado...!E, naquelas lonjuras, emborcou a viola. O Sapo despencou-se para baixo que vinha zunindo. E dizia, na queda:- Béu-Béu!Se desta eu escapar,Nunca mais bodas no céu!...E vendo as serras lá em baixo:- Arreda pedra, se não eu te rebento! Bateu em cima das pedras como um genipapo, espapaçando-se todo. Ficou em pedaços. Nossa Senhora, com pena do Sapo, juntou todos os pedaços e o Sapo voltou à vida de novo.Por isso o Sapo tem o couro todo cheio de remendos.
Antologia da literatura mundialLendas, fábulas e apólogos - vol IVSeleção de Nádia Santos e Yolanda Lhullier Santos Livraria e Editora Logos Ltda. São Paulo, 19--
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
FESTA NO CEU
Postado por Rosilene às 13:34
Marcadores: HISTORIAS LITERARIAS
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