O CAÇADOR FURTIVO PEDRO estava almoçando em companhia de seus pais. Prestava muita atenção à conversa dos mesmos, porque de fato era muito interessante. — Há muitos caçadores furtivos nos bosques — disse o pai. — Joaquim, o guarda, diz que não sabe quem é o culpado, mas, que todas as noites desaparecem coelhos e aves. Deve, forçosamente, ser algum forasteiro! — Escuta, papai — interrompeu Pedro — Joaquim não viu o caçador furtivo? — Sim! Julga que uma vez chegou a vê-lo! — respondeu o pai. — É um indivíduo alto, forçudo e com barbas! Pedro ficou muito preocupado com o caçador furtivo e pensou que um dia Joaquim havia de surpreender o criminoso. — Se eu tivesse uma espingarda como Joaquim, havia de perseguí-lo todas as noites, e não teria medo algum! — pensou o menino. — Oxalá pudesse descobrí-lo! Dois dias depois, quando o sol se punha, deu-se a casualidade de estar Pedro debruçado à janela mais alta de sua casa. Procurava ver se descobria seu amigo Tomás, o filho do guarda, na colina situada em frente da casa. Enquanto olhava, seus olhos se fixaram num indivíduo alto, que desaparecia nos bosques de seu pai. O sol poente fez brilhar por um instante a arma de fogo que o desconhecido levava debaixo do braço. Pedro imediatamente se lembrou de que aquele indivíduo poderia muito bem ser o caçador furtivo. — Quem será esse que a estas horas se mete nos bosques de papai? É alto e leva espingarda! Se fôr o caçador furtivo que hei de fazer eu agora? Desceu correndo e dirigiu-se a Jaime, o cocheiro. — Jaime, Jaime! — exclamou arquejante. — Nos bosques está um caçador furtivo! Veja se pode apanhá-lo! — Calma, calma, Pedrinho! — respondeu Jaime sorrindo. — Estou vendo que queres caçoar comigo! — acrescentou. — Juro que é verdade, Jaime! — exclamou o menino, agarrando-se ao braço do cocheiro. — Faz-me o favor de ir lá antes que seja tarde e que êle mate todas as aves e todos os coelhos de papai! — Não diga tolices! — replicou o cocheiro. — Tenho muito o que fazer e se quiseres vái tu mesmo apanhar esse caçador furtivo! Pedro compreendeu que era inútil insistir com Jaime, e, por isso, saiu a correr. — Não há tempo de ir em busca de mais ninguém — pensou. — E se eu mesmo fosse apanhá-lo na floresta? Correu em direção ao bosque e, antes mesmo de haver pensado no que faria, esbarrou com o desconhecido. — Quem é você, menino? — perguntou aquele. — Pouco lhe importa saber! — respondeu Pedro bruscamente, porque se sentia muito corajoso. — Você é um caçador furtivo! — Joaquim já o viu uma vez. Você é alto, usa barba e traz espingarda! E hoje voltou para caçar indevidamente nos bosques de meu pai! Faça o favor de me acompanhar! O desconhecido pôs-se a rir. — E onde pretende levar-me? — perguntou. — Aqui perto, em casa de meu pai! E não resista, porque papai ficará muito zangado! — E se eu tentar fugir? — perguntou o homem. — O que fará você? — Seguí-lo-ei — respondeu Pedro. — E posso afirmar-lhe que corro com muita rapidez! Além disso gritaria chamando Joaquim, o guarda, de forma que não tardaria em ser o senhor preso. É melhor vir comigo, porque se livrará dos ponta-pés e bordoadas que Joaquim certamente lhe aplicaria! — Bom! — concordou o desconhecido. — Entrego-me e o acompanho. Pedro o segurou pela manga do casaco e, tirando-o do bosque, levou-o até à sua casa. O desconhecido o seguiu docilmente, sem intentar sequer a fuga. Pedro se considerava muito valente. Acabava de prender, êle sozinho, um caçador furtivo. O que iria dizer o seu pai quando eles chegassem? Além disso, estava muitíssimo contente porque todos os seus colegas de escola ficariam sabendo que êle era valente e não tinha medo de um caçador furtivo. Considerava-se um herói completo! — Papai! Papai! — gritou ao chegar. — Venha ver o caçador furtivo! Eu o prendi e encerrei-o no telheiro! Tem espingarda e bolsa, que com certeza deve estar repleta de coelhos. Papai e mamãe apressaram-se a acudir muito surpreendidos e Pedro os conduziu ao telheiro. — Cuidado! — disse êle ao pai. — Pode tentar uma fuga e nos apanhar de surpresa! Papai abriu a porta e olhou para dentro. Deu um grito de assombro e entrou no telheiro. — Guilherme! Querido Guilherme! — exclamou. — De onde vens? Não esperávamos que você chegasse tão cedo! Aquele homem de elevada estatura saiu sorrindo e segurando no braço de papai. Pedrinho não podia compreender o que significava aquilo. Pois não é que seu pai tratava amigavelmente aquele desconhecido? — Este é o teu tio Guilherme! — disse o pai a Pedro. — Vem de caçar tigres em um país muito distante, para passar uma temporada conosco. E você menino foi prendê-lo, confundindo-o, com um caçador furtivo! Meu Deus! Pedro ficou vermelho como um tomate e muito envergonhado olhou para o seu tio Guilherme! — Sinto muito! — disse por fim. — A verdade é que pensei mesmo que o senhor fosse um caçador furtivo! O menino acrescentou ainda: — Por que então, o senhor não me disse logo que era o tio Guilherme? Teria evitado o aborrecimento de fechá-lo no telheiro! — Você é o menino mais valente que tenho conhecido — respondeu o tio. — Você sozinho me apanhou e me prendeu quando eu menos esperava! Prometo um dia levá-lo comigo, porque estou orgulhoso de ter um sobrinho como você! A aventura, pois, não teve consequências. Papai estava muito orgulhoso de Pedro e a mesma coisa pensava a mamãe. Assim, portanto, Pedro não se envergonhou quando, brincando, zombavam dele por ter encerrado o tio Guilherme no telheiro do jardim, pensando ser um herói conforme vira no cinema. Entretanto, no íntimo, Pedrinho estava desgostoso. Se os seus amiguinhos viessem a saber do acontecido, caçoariam dele e teria que demonstrar que não admitia brincadeiras Pedro e o tio Guilherme se fizeram muito bons amigos. Não tardaram em empreender uma viagem muito longa, não para prender caçadores furtivos, mas, para matar tigres na África. Lá pôde demonstrar a sua coragem não fugindo nunca aos constantes perigos das florestas africanas. Hoje êle tem satisfação em ter sido valente. Sede, pois, meus meninos, corajosos e vencereis sempre na vida.
sábado, 1 de janeiro de 2011
O CAÇADOR FUGITIVO
Postado por Rosilene às 05:26
Marcadores: HISTÓRIA COM MORAL
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